No seio misterioso da floresta indiana, vivia um caçador chamado Ky Shakhana.
Um dia ele avistou um pobre paquiderme deitado ali no chão, ferido, enorme, inerme.
Shakhana aproximou-se e, num sublime impulso, sentiu-lhe a febre ardente, então tomou-lhe o pulso,
Foi quando viu no pé do agônico elefante, a farpa que lhe causava a dor alucinante.
Rapidamente Ky num gesto habilidoso, logo extirpou-lhe o imenso espinho doloroso.
Depois, com agilidade e competência inata, vinte quilos de sulfa aplicou-lhe na pata.
Enrolou-lhe no artelho um band-aid gigante e por fim ministrou-lhe um galão de laxante.
Afastou-se o bichinho, feliz e curado, deixando do purgante o rastro almiscarado.
Muitos anos passaram. Já velho, Shakhana retomava alquebrado à sua cabana.
Mas eis que da floresta vem de supetão um elefante!
Pois vê nítido e claro, frente ao seu nariz, o band-aid em farrapos e a cicatriz.
O elefante sorri e olha com amor bem no fundo dos olhos do seu salvador, como se lhe dissesse com a pata no ar.”Ah! Me lembro de ti! Como não recordar…
Foi teu gesto gentil que salvou minha vida, aliviando-me a dor, me limpando a ferida!
Não existe elefante que disso se esqueça.
E depois, sutilmente, esmagou-lhe a cabeça. Moral da história: A memória do animal, ninguém refuta, Mas tem elefante que é filho da puta.
Vi esse poema no Jô Soares esses dias, e adorei... Vejam o link
Não há mais bela música Que o ruído da maçaneta da porta Quando o meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite, Da madrugada de estranhas vozes, E o ruído da maçaneta e o gemer do trinco, O bater da porta que novamente se fecha, O tilintar inconfundível do molho de chaves, São um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os meus olhos, Posso afinal dormir e descansar.
Oh! A longa espera, a negra ausência, As histórias de acidentes e assaltos Que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! Os presságios e os pesadelos, O eco dos passos nas calçadas, A voz dos bêbados na, E o longo apito do guarda medindo a madrugada, e os cães uivando na distancia, e o grito lancinante da ambulância!
E o coração descompassado a pressentir E a martelar, na arritmia do relógio do meu quarto Esquadrinhando a noite e os seus mistérios.
Nisso na sala que se cala, Estala a gargalhada jovem da maçaneta Que canta a festiva cantiga de retorno.
E sua voz engole a noite Com todos os ruídos secundários.
Oh! Os címbalos do trinco, E os clarins da porta que se escancara, E os guizos das muitas chaves que se abraçam, E o festival dos passos que ganham as escadas! Nem as vozes da orquestra, e o tilintar de copos, E a mansa canção da chuva no telhado, Pode se quer se comparar ao som da maçaneta que Sorri quando meu filho volta para casa.
Que ele retorne sempre são e salvo, Marinheiro depois da tempestade, A sorrir, e a cantar,
E que na porta a maçaneta cante sempre A festiva canção de retorno que soa para mim, Como uma suave cantiga de ninar.
Só assim, só assim meu coração se aquieta, Posso afinal dormir e descansar.